Percepção X Constatação

Estava há um ano e três meses sem dar aulas, fiquei afastada da sala de aula para estudar. Não sei se estou mais perceptiva, ou se o afastamento me fez agora ver coisas, que antes eu não enchergava ou me pareciam "normais" em uma escola. Não! Definitivamente isso não é normal!

Ontem à noite, os alunos do segundo ano já estavam respondendo suas provas, fiz a chamada e de onde estava me chamou a atenção alguns desenhos colados na parede do fundo da sala. Fui até lá para ver mais de perto. Eram certamente trabalhos feitos na disciplina de Arte. Releituras do Abaporu, de Tarsila do Amaral... lindos, tão caprichados...

Abaporu, em tupi-guarani, significa "o homem que come". Foi a partir desta tela que Oswald escreveu o Manifesto Antropófago e criaram o Movimento Antropofágico, com a intenção de "deglutir" a cultura européia e transformá-la em algo bem brasileiro. Este Movimento, apesar de radical, foi muito importante para a arte brasileira e significou uma síntese do Movimento Modernista brasileiro, que queria modernizar a nossa cultura, mas de um modo bem brasileiro.
Olhei ao redor... a arte primitiva também estava manifestada grosseiramente em cada espaço da sala... nas carteiras detonadas (muito mais pela força física do que pela ação do tempo), repletas de desenhos (?), nomes de bandas e times de futebol preferidos, palavrões, declarações de amor e ódio cravadas na madeira com caneta e corretivo... tomadas arrancadas à força, deixando fios elétricos à mostra... paredes descascadas, expondo as inúmeras camadas de tinta de cores diferente, que foram sendo sobrepostas, ano após ano... Tanta "destruição" em tão pequeno espaço!
Fiquei um pouco chocada... Mas os "Abaporus" estavam lá... me olhando...